segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

As Almofadas

Leandro Pausa aproximou-se da envelhecida Mara K. Utáia e dizendo que a mandaria para o hospital psiquiátrico mais próximo, queixou-se também da mancha esverdeada que ela causara na sua almofada nova.

K. Utáia sentara-se com a calça jeans suja, num dos coxins do Leandro, e tal fato fora suficiente para brotar nele as reações iradas.

- Verme do inferno, ladra de herança, fofoqueira de beira de piscina, comedora de churrasco de Poodle, fumaça que sufoca, será que você não percebe que sujou a minha almofada que acabei de comprar? – Inquiriu aos berros o iracundo Leandro.

- Nossa! Por que tanta brabeza criatura? Eu sei que você me olha e baba. Mas não é assim, não filhote. – retorquiu K. Utáia com ironia.

- Você acabou com a minha credibilidade. Depois de você não sou mais o mesmo; desacreditou o meu comércio. Quero que você vá logo pro inferno! - berrava Leandro Pausa.

- Quem pode, pode bebê! Quem não pode, se sacode, bate palmas ou vaia. – chuleou K. Utáia com serenidade.

- Vou te perseguir durante toda minha vida. Ainda te verei clamando perdão, carniça fedorenta! – esganiçava Leandro sem se importar com os vizinhos que atentos, ouviam mais um escândalo na casa do latoeiro.

- Depois que você parou com a Yoga ficou assim neurótico, intratável, um burro, uma besta insuportável – explicava Mara.

- Yoga, que mané Yoga? – quis saber Leandro.

- Yoga, sim. Você me disse que o magricela da Companhia Tupinambiquence de Energia Elétrica, te ensinou aquilo tudo. E quem mostrou como era, para o tal magrinho, teria sido o gorducho bigodudo, que descansava na carroceria do caminhão baú, durante os horários de almoço.

- Mas você en-lou-que-ceu! Pirou no sofazinho. O que é? Parou com o Gardenal, com o Rivotril? Você está idosa demais, Mara. Seu tempo já passou. Já era. Só pode ser cocô de gato. Não é possível. Pare de recolher bichanos da rua. Você ainda vai se dar mal. – lecionou Leandro.

Um silêncio fúnebre envolveu os litigantes.

- Por que você não passeia pelos campos verdes da fazenda oligárquica, onde seu pai se aposentou aos trinta anos de idade? Aproveita e pega um pouco daquela água da bica, e leva pra ele que vai completar noventa. – atacou Leandro.

- Assim não tem condição pra continuarmos. Eu não fico mais aqui. Com licença, vou à luta. Essa conversa a mim não nutre. – decretou Mara saindo e jurando que nunca mais voltaria ali.

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