quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

É do Mingo!



Tupinambicas das Linhas estava praticamente isolada dentro da conjuntura nacional. No dizer do Chuma, considerado o mais chato do pedaço, que ganhava todas de todos, seus moradores viviam mais por fora do que antena de tevê.
Ele chegou, numa certa ocasião a escrever um artigo pro Diário de Tupinambicas das Linhas dizendo "Os cidadãos têm os dois lados da consciência humana (o que se refere a si mesmo, e o que se volta para fora) em estado de letargia e semidespertos. O véu é feito com superstição e preconceito.
As pessoas aqui viventes nunca se dão conta de si mesmas como membros duma raça, povo, partido, família ou instituição".
É desnecessário dizer que o jornal, por meio do seu redator chefe, o doutor Magino, negou-se a publicar o artiguete, afirmando tratar-se de artiguelho pejorativo.
Chuma, por suas ideais e opiniões, era considerado, nas rodas de café, como um sujeito "mental". Assim, quando a turma via que ele vinha vindo logo diziam: "Ih, muda o assunto, que lá vem o mental".
Mas a turma não deixava de ter uma certa dose de razão. Quando entrava em pane, Chuma confundia bruma com Bruna, depauperado com de pau operado e, má cabra com macabra.
Quando estava nesse estado de confusão, ele encontrava dificuldades até pra chegar à Rua da Greve, na vila Dependência, local onde morava.
Quando, porém, ele dizia que ideias novas em cabeças velhas, não davam mesmo certo, era batata! Podiam conferir que ele estava certo.
Os mais velhos, do povoado, tinham receio de que o Chuma ao dizer o que dizia, provocava terremotos, incêndios, maremotos, sequestros, roubos, homicídios e até rebeliões nas cadeias.
Se aquelas ocorrências funestas seriam reações ao seu comportamento verbal, era verdadeiro ou não, isso improcedia. Entretanto a turma, por insinuações, sempre botava a culpa nele.
Um dia, durante uma tarde modorrenta, na praça central, conversávamos sobre a mais profunda filosofia, sob a sombra do monumento aos mortos Tupinambiquenses na revolução de 32, quando passou por nós uma quarentona, boazuda ainda, e que murmurava: "Justiça! Justiça! Justiça!"
A primeira ideia que nos veio foi a de que era a ex-amiga do Mingo, deixada por ele, após ter percebido ser a figura, baixinha e briguenta, complexa demais pro seu entendimento.
Chuma e eu nos entreolhamos. Depois de alguns segundos, quando terminou a análise da situação, definiu-a: "Justiça nada.
O que ela diz é linguiça, objeto evocativo dum falo enorme, que está querendo".
Falar o quê pra ele? Ele era o Chuma, meu amigo. E fim de papo.

Mudando de Assunto:
Quem não se lembra do velho Aero Willys?
Estaria equivocado quem dissesse que fazia muito barulho e tinha desempenho sofrível?
Veja o vídeo:


Leia Piracicaba é Notícia.

domingo, 18 de dezembro de 2011

A lambida



        Bafão abriu o boteco logo depois das oito horas, naquela manhã de sexta-feira. Ele pensara em chegar mais cedo para preparar o ambiente que receberia o pessoal do carteado logo mais a noite.
       Ele varreu o chão, lavou os copos, enxaguou o banheiro, lustrou o tampo do balcão e, tomando os envelopes, que vieram na tarde do dia anterior, trazidos pelo carteiro, passou a abri-los um por um.
       Eram cobranças de bancos, da empresa de telefonia, da companhia de luz, do serviço municipal de água, e panfletos publicitários das mais variadas formas.
       Enquanto Bafão lidava com os papéis um dos cachorrinhos pretos da vizinha entrou no bar e, farejando pelos cantos, estancou perto do lugar onde permanecia o proprietário, levantou então a perna traseira direita, soltando em seguida, o esguicho determinador do local por onde passara.
       Bafão já pensara em queixar-se com a proprietária sobre aquele bichinho que vadiava o dia todo pelas ruas do quarteirão. Mas como conhecia bem o temperamento melindroso da moradora, para não agitá-la, resolveu escrever-lhe uma carta.
       Pegando um lápis pôs-se a rascunhar um desabafo contra a falta de cuidados e atenção daquela velha senhora tristemente barriguda, de calcanhares rachados, dona de um cachorro enxerido.
       Depois Bafão, naquele armário antigo, de portas envidraçadas, onde expunha os sabonetes, as pastas dentifrícias, as linhas, as agulhas, os cadernos, os lápis e canetas, capturou um envelope.
        Com uma lambida, na cola seca, da borda da aba da sobrecarta, ele fechou lá dentro a missiva.
       Da gaveta do balcão ele tirou um selo, dando-lhe a lambidela umidificadora que possibilitou a fixação da estampa fina no envoltório tosco.
       Irrompendo bar adentro uma garotinha, de cabelos curtos, castanhos e lisos, pediu um sorvete de chocolate, que imediatamente depois de ter a sua embalagem rasgada, foi levado à boca com avidez.
       - Minha mãe mandou marcar na conta dela. – disse a menina ante o olhar atônito do Bafão.
       - Ô mocinha, faça-me um favor. Quando passar por aquela caixa dos correios, ali perto daquele poste, coloque lá essa cartinha. - pediu Bafão para a freguesa que saia.
       - É para o papai Noel? – quis saber a pequena lambendo ostensivamente a guloseima.
       - Não é não. É para uma amiga dele. – respondeu o comerciante.
       A jovenzinha saiu deixando o homem a sós, com a papelada dos credores.
       Bafão olhou-se no espelho pequeno, de moldura laranja, e achou que já estava no tempo de cortar os cabelos.  
       Pensando em despreocupar-se ele então abriu uma garrafa de licor de jabuticaba, servindo-se com prazer num pequeno copo.
       - Ah, os licores!!! Mas que delícia...
       Quando o homem se preparava para ligar ao fornecedor das bebidas, a fim de reforçar o estoque de cervejas geladas, que serviria ao pessoal do carteado, ele notou que uma jovem magricela, de estatura pequena, com os cabelos pretos, presos em um rabo de cavalo, vestindo um short marrom e camiseta regata verde, parou defronte a porta do boteco.
       Com a cabeça baixa, e de frente para o comerciante, a mulher fez com a mão direita, alguns gestos que lembravam as lambidas de uma girolanda imensa.
       Bafão que pensava já ter visto tudo o que de mais bizarro podiam apresentar algumas almas atormentadas daquela rua, não esperava por mais aquela demonstração de menosprezo.
       Ele recordou-se que quando chegava ao bar pela manhã e saia à tardezinha, sempre havia alguém da vizinhança fazendo-se notar.
       - Fazer o quê? – inquiriu ele, meneando a cabeça. – Temos de ter paciência. Muita paciência.


Mudando de assunto:
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sábado, 17 de dezembro de 2011

O Primeiro Amor



          Van Grogue trajando camiseta regata azul, short marrom e chinelos verdes, entrou no bar do Bafão naquela manhã de sábado, com a intenção de matar a sede e passar algumas horas agradáveis na companhia de gente boa.
       Já tinham chegado Gelino Embrulhano, Zé Cíliodemorais, Billy Rubina e Célio Justinho, que falavam sobre a possibilidade de ser o E.C. 7,5 de Novembro, o campeão do torneio estadual de futebol, que iniciaria em 2012.
       Grogue tinha passado a noite jogando cartas na casa de um vizinho do Fuinho Bigodudo e não podendo desviar eficientemente da mesa de bilhar, postada no centro do salão, deu uma topada no móvel que quase lhe arrancou a unha do artelho do pé direito.
       Gemendo e se contorcendo de dor, Van aproximou-se dos colegas que, boquiabertos com a cena, cessaram a conversa.
       - Pô Bafão, bem no meio da passagem você deixa esse trambolho? – indagou, choramingando, o Van de Oliveira.
       - Qual é? Está cego ou o quê? – respondeu indignado o dono do boteco.
       - Todo mundo desvia, só você não percebeu o tamanho da coisa. – comentou Célio Justinho.
       Billy Rubina pousando o copo de cerveja sobre o balcão abaixou-se observando mais de perto a região do choque. Depois comentou:
       - Não foi nada. Não arrancou a unha e nem fraturou o dedo. Mas você é burro mesmo hein, seu Van Grogue?
       - Que mané burro, mano? Não vi essa porcaria no meio do caminho. – defendeu-se Van.
       - Está bêbado? Já chegou encharcado pro expediente? - Quis saber o Zé Cíliodemorais.
       Sem dar atenção às reclamações Van Grogue, com um gesto, fez vir para si o costumeiro copo de cachaça e a cerveja bem gelada.
       Como se sentia entristecido, o pingueiro mais conhecido de Tupinambicas das Linhas desistiu de conversar com a galera, acomodando-se a uma mesa, num canto distante, perto da porta.
       O fluxo da conversa dos colegas voltara ao normal e Grogue então, tomado por uma espécie de transe, sentiu que imagens e sons fantasmagóricos envolviam-no distanciando-o do boteco.
       O menino, de mãos dadas com a mãe caminhava pela rua principal da cidade. Ele vestia uma camisa branca nova, seu short azul marinho tinha bolsos nas laterais e as sandálias de couro, com fivelas metálicas, proporcionavam-lhe prazer ao andar. Na lancheira, que trazia no ombro direito, havia uma garrafinha de leite com café e um filão recheado com queijo.  
Mãe e filho pararam defronte ao portão de ferro, cuja pintura cinzenta demonstrava desgaste. Ante o olhar espantado e curioso da criança, a mãe lhe sussurrou:
- É o jardim da infância. No ano que vem você vai para o curso primário.
Atendendo ao toque na campainha a mulher, de meia idade, cabelos esbranquiçados e um sorriso amistoso nos lábios, veio receber o seu mais novo educando.
O menino foi introduzido numa sala onde já estavam outras crianças sentadas em círculo, no chão. Elas usavam lápis de cera para produzir traços e formas coloridas nos papéis soltos, que depois de preenchidos, eram guardados nas pastas individuais.
O garotinho não trouxera nenhum material que possibilitasse sua atividade junto ao grupo. Entretanto a professora, buscando num armário distante, duas folhas de papel e alguns lápis, fez com que o recém-chegado se juntasse aos outros.
A tarde ia passando e o novato não podia esconder a atração que lhe provocava a menina rochonchuda, de cabelos castanhos lisos e longos, que mantinham no lado esquerdo, lá no alto, um lacinho branco de seda.
Por onde Ângela andasse Van de Oliveira ia atrás. E quando ela percebia que aquele chato se aproximava, logo demonstrava seu desprazer queixando-se com a professora.
Van pôde ouvir o comentário da mestra com uma assistente sua, sobre o comportamento do menino.
- Ele não fala muito. E veja que tenta se aproximar da garota.
- É, mas ela não quer nem saber... – respondeu a auxiliar.
Numa tarde, quando a professora estendia as esteiras num dos aposentos, onde as crianças repousariam, Grogue vendo que Ângela se acomodou numa delas, deitou-se na do lado.
O menino sentiu-se muito mal quando a amada, resmungando, se afastou dele.
Vexado ele não tinha forças nem pra se levantar.
- Acorda! Ô pingueiro do inferno! No chão do boteco é lugar pra dormir? – Era Bafão que, sacudindo o ombro direito do Van, tirava-o de um coma alcoólico.
    


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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A Escada



Já lhes contei a história da Gertrudes. Quando criança ela fizera parte de família numerosa. Seus pais, depois que chegaram da Europa, compraram uma fazenda enorme donde tiravam barro com o qual faziam telhas e tijolos. Mas depois que crescera resolveu vir para a cidade, como direi, grande, onde se estabeleceu com o comércio de materiais para construção. 

Gertrudes considerava-se uma das melhores vendedoras do mundo. Era daquelas que se orgulhava por conseguir negociar geladeiras com esquimós e aparelhos artificiais de bronzeamento nos países com sol tropical. Por isso ela, diante do marasmo que sofria sua loja "Casa Quadrângulo", naquele período do ano, apostou com uma vizinha sua, prima da Bim Latem, que venderia, nos tempos do computador eletrônico e das cópias xerográficas, um antiquado e obsoleto mimeógrafo a álcool ao danado maluco que, igual à mosca na sua sopa, vivia a lhe abusar.

Tratou de saber do que gostava o pancada. Quando lhe disseram que gostava de ciclismo e que não saía de uma loja especializada onde se comerciava o produto, mandou imprimir um folheto, feito de forma muito bem elaborada, que continha certas sugestões implícitas.

Na autoria do prospecto figurava um nome semelhante ao do proprietário do estabelecimento que o amalucado visitava sempre. Tal procedimento tinha por fim criar identificação com os gostos do seu alvo visado. 

Astuciosamente fez com que o livreto aparecesse entre os pertences do desnaturado. O opróbio quando descobriu aquela literatura na sua estante, ficou assim, meio que cismado, e incontido na sua curiosidade extrema, resolveu saber quem teria sido o autor da façanha; mesmo que isso implicasse em xingamentos de que ele não passava de um paranoico incontido.
 
Não obteve sucesso em saber quem havia introduzido aquele papelório na sua estante. Mas podia supor que fosse Gertrudes, eis que somente a ela interessava provar, vendendo um objeto ultrapassado, que o comprador não era assim nenhuma sumidade inteligentésima. 

Para Gertrudes, o intelijumento estava abusando da sua paciência quando passava defronte a loja diariamente, dirigindo-lhe olhares provocativos. E por isso seria o alvo principal daquela aposta. No panfleto, as anotações de rodapé traziam indicações da bibliografia usada e que se encontrava no mercado com a forma mimeografada.
  
A intenção de Gertrudes, conforme pode notar meu perspicaz leitor, era produzir na intelijumência a querência de fazer algo, por imitação, com o mimeógrafo, que ele veria exposto na loja vizinha, todos os dias que passasse por ali.

E conseguindo isso seu regozijo seria tal que toda vez que aquela cabeça estiolada transitasse defronte sua loja seria escarnecida com achincalhamentos contundentes. 

Mas, contudo se não obtivesse sucesso nesse seu projeto maquiavélico, Gertrudes faria contatos imediatos com a seita maligna do Dr. Val. E junto com o maníaco do expresso 383, dariam fim ao provocador, fazendo desaparecer inclusive o corpo do delito, sem o qual a impunidade de todos os mandachuvas e tutumumbucas da cidade mortiça estariam asseguradas.


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sábado, 10 de dezembro de 2011

Caminhão atropela procissão e mata dez



Um caminhão desgovernado, carregado de areia, atropelou dezenas de fiéis durante uma procissão na quinta-feira (8/12), em Feira Grande, no interior de Alagoas matando dez pessoas.

O caminhão-caçamba carregado de areia, que pegou fogo, atingiu sete veículos entre motos e carros “Foi muito rápido, então não dá para a gente definir o que aconteceu, na verdade”, disse um morador.

Três motos foram arrastadas pelo caminhão, que só parou depois de capotar na praça principal da cidade.

“Todo mundo apavorado com o carro pegando fogo. Algumas motos explodindo, como a gente viu. Existiam essas explosões e as pessoas se assustavam. Mesmo assim, o pessoal muito solidário. Eles entraram mesmo, metiam a cara e jogando areia. Faziam de tudo para tentar resgatar os corpos”, contou o morador Edson Chagas.

O motorista do caminhão e outras nove pessoas morreram. De acordo com o Instituto Médico-Legal (IML), quatro das vítimas eram crianças. Uma delas morreu soterrada pela areia que caiu da caçamba. Outras quatro pessoas foram carbonizadas.

A todo o momento moradores chegavam à praça para tentar identificar parentes. “Recebi a notícia e fui logo para o IML, fui logo para a unidade de emergência, mas não localizei. Vim direto para ver se localizava. Estou abaladíssima. A família inteira. Isso é um choque”, comentou a funcionária pública Gildete Soares Bispo.

“Uma avenida dessas, cheia de gente, milhares de gente, acontece um negócio desse aqui. Foram muitas vidas”, lamentou o gerente de panificadora Marcelo Rocha.

A cidade de 22 mil habitantes no agreste de Alagoas está de luto. “Não dá nem para imaginar”, lamenta um morador.

Segundo a polícia, três mil pessoas participavam da procissão. As causas serão apuradas.

“Se a carga estava acima do permitido, se o caminhão estava em condições de trafegar e se o motorista estava em condições de conduzi-lo. São dados que só com a investigação poderão ser passados”, afirmou o tenente da Polícia Militar de Alagoas, Vanderlei Pereira Oliveira.



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