segunda-feira, 19 de março de 2012

É Justo?


Ou como enriquecem os Zé Arruelas

      Quem viu a pouca vergonha, conhecida como desvio de dinheiro público, mostrada ontem pelo Fantástico da Rede Globo de Televisão?
       A maior parte da população brasileira viu. E creio que até no exterior a matéria foi degustada.
       Agora você pode começar a entender como é que um Zé Arruela, que não tinha um gato pra puxar pelo rabo, antes de se meter com a administração pública, agora tem aquele apartamento supimpa, carros importados, amantes em várias cidades, viagens internacionais e outras riquezas mil.
       O esquemão, pra quem não entendeu, é esse: por exemplo, quando uma prefeitura deseja, asfaltar algumas ruas chama a empresa CECRAT, que lhe passa os valores do serviço.
       O encarregado municipal só aceita a proposta do empreiteiro, quando a entidade concorda em apresentar os valores acrescidos de mais 10 ou 20%.
       Executado o serviço e tendo os cofres públicos pagos os valores à empresa, esta repassa então os 10 ou 20% excedentes ao funcionário ou político envolvido na trama.
       Todas as demais empresas que também teriam interesse na contratação com a administração são levadas a apresentar preços maiores do que os da primeira, perdendo assim o que seria essa “licitação pública”.
       O empreiteiro pode entregar o produto do superfaturamento aos espertinhos, às vezes, dentro de caixas de uísque, de vinho, ou usando outra forma qualquer.
       Você que gosta muito de assistir televisão, também fica imaginando de onde sairia tanto dinheiro, doado como prêmio, nesses programas populares?
       O povo, que paga esses crimes, é ainda aprendiz de malandro.   
  
       Leia também nesta edição:

Operação da Polícia Civil e MP prende prefeito de Pacajus, no Ceará

sexta-feira, 9 de março de 2012

O Renascer



                 Cassio saiu de sua casa à tardezinha, objetivando visitar os familiares de uma amiga que estava adoentada.
       O rapaz dirigia seu carro com muito cuidado, eis que estava bem ciente dos perigos do trânsito. Os noticiários diários estampavam as ocorrências desastrosas no dia a dia e, segundo as previsões, somente depois de longa campanha educativa, elas diminuiriam.
       Do bairro de onde saiu, passou pelas ruas centrais da cidadezinha pacata. Na praça principal, ladeada por agências bancárias, ele viu a pressa das pessoas que buscavam cumprir seus compromissos.
       Bastante atento, ele entrou então na via, que o levaria ao seu destino final.
       Ao parar defronte o prédio da amiga, deu graças pelo milagre de ter encontrado aquela vaga, estacionando ali o Pálio grená.
       Com alguns passos, o rapaz chegou à porta do edifício, de onde se fez anunciar.
        Lentamente o moço foi entrando até chegar à sala onde foi recebido pela jovem alta, magra, cuja tez era bem alva.  
       A anfitriã olhou-o, de cima pra baixo, com desconfiança. Tinha o semblante tenso; ela estava prevenida; havia algo obscuro, oculto, que dava a sensação de incerteza e medo.
       Eles trocaram algumas palavras e Márcia pediu que ele se sentasse no sofá branco. Logo em seguida ela o deixou só, indo para a cozinha.
       Alguns segundos depois Marcia voltou trazendo uma cadeira que colocou ao lado do sofá, onde o jovem se acomodara.
       Sentindo-se desconfortável e achando muito esquisito o fato dela ter ido buscar uma cadeira, quando havia espaço de sobra no sofá, Cassio perguntou sobre o estado de saúde da amiga.
       - Ela ainda está internada. Na UTI. – respondeu Márcia sentando-se na cadeira.
       Sem ter o que dizer, o moço talvez num gesto de defesa, dobrou-se apoiando os cotovelos nos joelhos.
       - Você não gostava dela? – quis saber Márcia.
       - Não.
       - Por quê? – insistiu a jovem.
       - Ela tinha os pés feios. – justificou Cassio visivelmente envergonhado.
       Márcia ajeitou o vestido cor de vinho, cruzou as pernas e dobrou-se também, apoiando os cotovelos sobre a coxa direita.
       Naquele instante Cassio viu-se ainda menino aproximando-se da sua avó paterna que, sentada também numa cadeira, na cozinha, ouvia o locutor jovial que falava no rádio, postado numa prateleira, fixada na parede, bem na altura da sua orelha esquerda. O garoto foi se aproximando até tocar, com os dedinhos, as veias grossas e salientes da mão direita da avó.
       - Será que ela vai melhorar? – inquiriu o moço.
       - Os médicos dizem que é bem grave. Ela precisou raspar a cabeça.
       - Todos os cabelos caíram? – perguntou mais uma vez o visitante.
       - Se ela melhorar e deixar que eles cresçam normalmente, sem usar nada, pode ser que tudo volte ao estado original. – confirmou Márcia.
       - E se ela insistir com aquelas ideias de tintas, pinturas? – perguntou Cassio com um tom sofrido na voz.
       - Dai, se tudo der certo, nada mais complicar, ela usará perucas pro resto da vida. – asseverou a moça enquanto olhava os artelhos que movia ostensivamente.
       Sentindo-se muito embaraçado Cassio levantou-se anunciando que partiria.
       - É cedo ainda. – disse em voz baixa a jovem bonita.
       - Vamos rezar pra que dê tudo certo, e ela sare, não é verdade?
       - Se Deus quiser ela vai melhorar. – afirmou a moça esperançosa, enquanto abria-lhe a porta.  
       No caminho, de volta pra casa, Cassio torcia pra que aquela sua amiga, tão amada, pudesse recuperar a saúde que perdera, momentaneamente, por causa da imprudência.

Mudando de assunto.
Quem não se lembra
da canção Dominique Nique Nique?
Curta o vídeo.  

quarta-feira, 7 de março de 2012

Comportamento autoritário

A atriz Carolina Dieckmann
que vive Teodora em a novela
Fina Estampa da Rede
Globo de Televisão.
Foto: Internet 



                Fina Estampa chega ao seu final destacando-se dentre as demais produções contemporâneas do gênero.
       Contribuíram para o êxito alcançado pelo folhetim, sem dúvida nenhuma, os destaques dados ao Crô (Marcelo Serrado) e Tereza Cristina (Cristiane Torloni).
       O comportamento autoritário, doentio, injusto da “Rainha das terras férteis” faz lembrar o dos velhos coronéis do interior, que abusando do poderio econômico e político, oprimem os mais fracos e empobrecidos.
       Todos os demais núcleos tiveram suas participações necessárias e importantes. O desenrolar do enredo não teria o rumo que lhe foi projetado sem a presença de Griselda da Silva Pereira (Lília Cabral), e muito menos sem a participação indispensável da Teodora Bastos da Silva (Carolina Dieckmann).
      Pra falar a verdade achei a ação atribuída à Teodora (Carolina Dieckmann) bastante limitada, modesta mesmo. Casada com Quinzé (Malvino Salvador), e tendo um filho com ele, não seria crível que ela rejeitasse a dinheirama que Griselda, em certa ocasião, lhe ofereceu.  
       O “robalo” do Pereirinha (José Mayer) sempre “a serviço” da colérica Tereza Cristina, acrescentou sensualidade e malícia à trama.
       E de Ferdinand? Falar o quê dessa figura oportunista, mau caráter, que não titubearia em praticar atos criminosos para se saciar libidinosamente nos favores sexuais oferecidos pela “Rainha do Nilo”?
        

segunda-feira, 5 de março de 2012

Salário Modesto


                 Van Grogue não era calçada portuguesa, aquela obra de arte feita para ser pisada, mas a população de Tupinambicas das Linhas cria que para ser feliz deveria melindrá-lo sempre.
        Essa mania, de calcar o bêbado, nascera com a vovó Bim Latem a chefe de gabinete do prefeito Jarbas, o caquético testudo, espalhando-se ao longo do tempo e pela cidade toda.
        Eu já lhes contei inúmeras passagens sobre a tal vovô Bim Latem. Ela era fã de Herivelto Martins e Dalva de Oliveira; quando entrou para o funcionalismo público – onde trabalhou durante cinco anos e já está aposentada há cinquenta -, comprou com o primeiro salário que recebeu toda a discografia dos artistas.
        Por ter o Van Grogue uma desavença com Luisa Fernanda, Célio Justinho que envolveu também o prefeito Jarbas, o vereador Fuinho Bigodudo e o deputado Tendes Trame, a vovó Bim Latem desejou, com todas as suas forças morais, poderio econômico e tráfico de influência, que o tal pingueiro fosse morar numa barrica a ser instalada em qualquer rua da cidade.
        Numa das reuniões que aconteceram ao redor da piscina de Luisa Fernanda e Célio Justinho, onde também faziam churrasco e ensaiavam as apresentações da Banda Funileiros do Havaí, a vovó teria dito sobre o futuro do Van de Oliveira:
        - Vai morar na rua entre os cães; de lá “meterá o pau” em nós e em nossas obras administrativas. Quando ouvir um sino sentirá vontade de perambular pelas vias, becos e vielas.  Esse catinguento terá muita sorte se alguém se compadecer dele e o tirar da sarjeta.
        Apesar de todo esse sortilégio lançado contra Van de Oliveira, a justiça agiu antes, tendo descoberto falcatruas imensas nas licitações da prefeitura tupinambiquense.
        Jarbas, sua mulher, Fuinho Bigodudo e até mesmo Tendes Trame, tiveram de explicar na polícia como conseguiram tamanho acúmulo de bens móveis e imóveis, com os salários modestos que recebiam.
        Para muitos a carreira política desses senhores havia chegado ao fim.

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