quarta-feira, 2 de junho de 2010

Rodeando o toco

Gabrielzinho “boca de porco” (ô sujeito nojento!), aproximou-se da empregada doméstica bem devagarzinho e valendo-se da concentração dela, que lavava a louça do almoço, detonou:

- Barriguda do pé rachado!

A pobrezinha que pensava nas palavras ouvidas no sermão da missa matinal daquele dia, quase teve um chilique.

- Miserável! Vagabundo, ao invés de arrumar um serviço pra ajudar nas despesas, fica aprontando safadeza. Que papelão é esse? – reagiu Maria Helena que, com o susto, deixara cair a panela de pressão dentro da pia, provocando um ruído intenso.

- Se eu for trabalhar fora quem é que vai cuidar dessas crianças? – perguntou o “boca de porco” enquanto ocupava o lugar da mulher, para ter o acesso livre à torneira.

- Essas meninas passam muito bem sem a sua presença. Aliás, tudo vai melhor quando você dorme. Já percebeu? - garantiu Maria Helena com sofreguidão. Ela quase perdeu a dentadura durante a fala enérgica.

- E eu, vou trabalhar de quê? Onde? – Gabrielzinho acabara de lavar um copo e enchia-o com água do pote.

- No salão de beleza do Delsinho, ora. Ele me disse que lá precisam de alguém pra lavar os cabelos das clientes.

- Cabeleireiro? Eu? Eu sou é macho, minha filha. Não vem não! – Gabrielzinho ficara nervoso e depois de beber um gole d´água, percebia-se que seu rosto intumescera.

- Gabrielzinho, pelo amor de Deus! Você não percebe que tenho ainda que lavar a frente da casa, varrer toda aquela calçada e outras 201 coisas pra fazer? Para de me zoar. Por que você não leva a cachorra pra passear? Faça alguma coisa útil. Ô criatura danosa!

- A última vez que levei essa cadela peluda pra passear ela fez cocô, defronte o portão da vizinha da esquina, e o velhote veio me chamar a atenção. Não saio mais com a pulguenta.

- Que futuro você terá criatura? Fica enrustido nesse quintal feito um “cabeça fraca”, um débil mental. Você não se toca, malandro? Olha, já está demais essa loucura, essa irresponsabilidade. Como é que vai terminar isso?

- Eu não sei como vai terminar. Mas sei muito bem que trabalhar eu não vou. Se for, pode ter a mais absoluta certeza: eu não me chamo Gabrielzinho, o legítimo “boca de porco”.

Dizendo essas palavras o babá rebelde saiu em direção à calçada; então, com toda a calma do mundo, sentou-se no toco, de onde passou a admirar o movimento.






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