“Eu precisava mesmo ver você de perto, sentir o seu perfume o seu hálito, o calor da tua pele, tocar os seus cabelos. Mas você sabe como é... a turma queria fazer antes o serviço lá no campus da escola, e eu não pude falar não. Eles já tinham tudo preparado. Bastava só uma banana e os limites estariam estilhaçados. Nos reunimos naquela noite anterior ao dia do pagamento dos professores e funcionários. A gente tinha de chegar ao caixa eletrônico no máximo até um dia após o depósito dos salários. No boteco, a gente não falava muito sobre o assunto. Já estava todo mundo inteirado. A gente ia chegar e mandar ver, sem dó. Eu tinha comigo um fuzil e uma P 40; os manos portavam uma metralhadora cada um. O carro que “fizemos” dois dias antes, já estava com placas frias. O tanque cheio; a gente só esperava o tempo passar. Naquela agonia da espera eu só pensava em você. Eu me lembrava da tarde em que você, ao chutar uma bola, lançou também o sapato que acertou o nosso cachorro. O coitado, assustado, quase caiu na piscina. Num domingo à tarde, você estava maravilhosa de roupão branco, testando vestidos para ir ao teatro à noite ver aquela peça. Eu nunca gostei desse negócio de teatro, mas você gostava... Os teus olhos verdes me fascinam. Fico doidinho. Me faz lembrar do mar, da água salgada, do sol, da cerveja, do bate papo divertido. Enfim... Saimos do mocó no momento certo. Só um detalhe me chamou a atenção: foi quando ao virarmos a esquina, daquela rua que leva à entrada do campus, notei um pote assim, deixado na sarjeta. Achei esquisito, estranho, mas os manos não se ligaram na parada. Fomos em frente. Chegamos ao caixa e detonamos o ambiente. Foi tudo meio rápido. O lugar ficou bem quente e empoeirado. Lembro que os tiras chegaram de surpresa. Era só bala que voava pra todo lado. Foi triste, muito triste. Quando você vem me visitar?”
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