sábado, 25 de junho de 2011

A Trissomia do 21




                            Igual ao pavão enlouquecido que, de vez em quando, abria em público as penas do seu rabo enorme; semelhante à Luísa Fernanda que insistia em demonstrar saber “tirar de ouvido” o hino do Corinthians, naquele seu teclado velho; parecido ao Boca-de-porco que disparava tiros de revólver contra os muros frontais da sua casa, Mariel Pentelini, por não dispor de qualquer outro dom, gozava ao exibir seu carro antigo a certos vizinhos.

                         O lelé ao saber que o adverso se aproximava caminhando, apressava-se em postar-se ao lado do auto, mantido ao meio-fio, com as portas e o capô abertos, ostentando-o. Era como se o matusquela dissesse: “Olha vizinho: eu tenho carro, você não!”

                        Qualquer mente sadia atribuiria tal comportamento à característica própria de pessoa imatura, ou portadora da trissomia do 21. Como sabemos, a trissomia do 21 é a translocação não equilibrada de um cromossomo para outro, resultante na chamada idiotia  mongoloide.

                         A história da trissomia assemelha-se à dos desvios das verbas públicas feitas por políticos irresponsáveis. Na translocação do “arame” coletivo para o rol de bens particulares do pilantra, causa-se um desequilíbrio, na ordem das coisas que resultará, no futuro não muito distante, em crise social previsível.

                          Por outro lado, as condutas éticas, tanto do médico mal intencionado, que diagnostica epilepsia, em quem jamais teve sequer uma única convulsão em toda sua vida, como daquele doutor que certifica ter a criança um desequilíbrio no gene, são semelhantes ao do mandatário que lesa alguém desviando sua herança ou as verbas do cofre comum.

                        Para Mariel Pentelini, Boca-de-porco, Luísa Fernanda, Vovó Bim Latem e os membros da seita maligna, chefiados por Jarbas o energúmeno, caquético testudo, a ética dominante era a do que preceituava o provérbio: “Farinha pouca, ‘mano véio’, meu pirão primeiro”.

                        Tinham também esse tipo de mentalidade aqueles que, predispostos ao mal, usariam os diagnósticos equivocados como punição aos pais usurpadores de algum bem condominial.

                        Afinal, meu amigo leitor, o que mais justificaria a manutenção dos maus juízos, mesmo diante dos sinais da ausência de anomalias, se não fossem o ódio, o ressentimento e a inveja?

                        Por meio da formação de opinião pública contrária, visando manter como verdadeiro o falso entendimento, valeria a criação de barreiras retardantes, das ações comprobatórias da inexistência do alegado retardo mental.

                        O poder político em Tupinambicas das Linhas, para desenvolver suas atividades opressivas contra Van Grogue e sua turma do boteco, se estribaria em preconceitos ilógicos formados pelas frustrações das pessoas preteridas.

                         Era por essas e outras razões que o município regredia, podendo o cidadão comum observar o retrocedimento em que se metera a direção política da urbe. As desistências de instalação das unidades das empresas de grande porte na cidade se deviam mais à política errônea dos seus políticos do que da comentada crise econômica mundial.

                        Como membro da seita maligna do pavão-louco, chefiada por Jarbas o caquético testudo, o exibicionista Mariel Pentelini tinha de provar àquela amásia a quem se ligara, que era muito mais homem, muito mais macho e valente, do que qualquer outro vizinho bípede implume, existente no quarteirão.

                         Também fazia parte do engodo envolvente do casal, a fantasia de que o ostentador Pentelini seria o mais supimpa e tresloucado porra-louca, jamais visto em toda a história da Vila Dependência, o bairro mais periférico da famosa Tupinambicas das Linhas.

 Publicado originalmente em
23/01/2007.

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