segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O sequestro do velho carteiro



                                  Parado na esquina, com o cacete na mão, Donizete Pimenta esperava por alguém que viesse atacá-lo.
               Na verdade o moço delirante, por sentir-se ameaçado, mantinha-se em posição de defesa.
             Quem passava pela rua via aquela figura grotesca, primitiva, de short bege, sem camisa, descalço, com o tacape em riste, pronto para o combate imaginário.
             Diziam no quarteirão que o amalucado tinha ascendência chilena e que viera para Tupinambicas das Linhas fugido da polícia. Segundo comentários, no bar do Maçarico, Donizete envolvera-se com o sequestro de um velho carteiro.
             Os vizinhos notaram que o doidinho tinha o hábito de sair de casa sempre acompanhado de uma jovem morena, de cabelos pretos e longos, caminhar rapidamente pelas ruas, e de não falar com ninguém.
             No boteco, Maçarico já demonstrara a sua desconfiança ao conversar com a figura, que entrara numa ocasião, para comprar cigarros.  
             Num domingo de manhã quando Van Grogue, Zé Cílio Demorais e Billy Rubina bebiam tranquilamente, comentaram as impressões causadas pelo novo e misterioso vizinho, que passara naquele momento, ligeiro assim, feito uma sombra, pela porta do bar.
             - Dizem que é muito rico. A mulher deve ter umas oito casas. Com escritura e tudo. – disse Van de Oliveira ao notar a dupla que caminhava.
             - Eles não têm filhos. – emendou Zé Cílio.
             - Eu ouvi dizer que eles têm filhos de outras uniões. Se não me engano são quatro menores.
             - Ninguém nunca viu esses dois com guris, zanzando de lá pra cá. – contribuiu Maçarico.
             - Talvez fiquem escondidos dentro da casa. – arriscou Van Grogue.
             - Será? – questionou Zé Cílio.
             - Eu não acredito que esse bagre cabeçudo tenha capacidade pra fazer isso. – desafiou Maçarico.
             - Olha, não duvide. Tem louco pra tudo. Pelo jeito que esse pé-rachado age, não duvide que ele seja capaz de gerar filhos com a própria filha. – garantiu Billy.
             - Pra mim esse retardado mental quer fazer bonito pra impressionar a mocréia miserável que caiu na rede dele. – concluiu Maçarico.
             Agora ali, parado na esquina, com a borduna na mão, à espera do inimigo imaginário, Donizete assustado, com o coração a galope, viu a polícia que chegava.
             Ao ser detido ele confessou que mantinha uma das crianças presas num cubículo, construído dentro de um dos quartos da casa, feita lá no fundo do quintal; e que a sujeitara, para aprender, a ouvir diuturnamente, centenas de músicas sertanejas.  
             Depois das primeiras providências, tomadas no inquérito policial, o delegado determinou que Donizete Pimenta fosse levado ao sanatório psiquiátrico do doutor Silly Kone, onde recebeu o tratamento especializado.  
               

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