sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Motorista de Kombi

Olha a ironia dos adversários do Van Grogue: quando souberam que seu pai passaria por uma cirurgia cardíaca deixando, portanto de trabalhar por um tempão, providenciaram pra ele, o pinguço, um serviço de motorista de Kombi.

A perua era daquelas bem velhas em que nem os freios funcionavam direito. A partida, pela manhã, era um inferno. Gastava-se dezenas de minutos tentando fazer aquele “desacordo” pegar.

O cacareco passava a noite, parada na rua, defronte a casa alugada. Vanzinho de Oliveira rezava, durante a madrugada, para que os bandidos vizinhos não a detonassem de uma vez por todas.

Por sorte esse temor do Van de Oliveira não se concretizou. Ele acordava cedo, entrava na bagaça, girava a chave no contato e tentando, tentando, só se tranqüilizava depois de dez minutos, quando o motor funcionava.

No quarto, no andar de cima, repousava o velho pai do Van de Oliveira. Ele acabara de passar por uma intervenção cirúrgica e tinha os ossos do tórax costurados com fios de aço. Os ferimentos nos músculos e pele do peito eram costurados por fios pretos cobertos com gaze.

E toda a manhã quando Groguinho punha a sua Kombi pra funcionar, o velhote acordava lá no andar de cima e gemia sem parar.

- Ai, ai, pelo amor de Deus! Pisa nessa bosta de acelerador que ela pega! – gritou certa vez o papai do Van.

Pois foi assim mesmo que o então garoto, aprendera que umas bombeadas antes e durante o acionamento do motor de partida, seriam propícias ao funcionamento da bexiga.

O tal trabalho que uma das irmãs do pai do Grogue arrumara pra ele, o menino vadio, maconheiro vagabundo, sem-vergonha e mau caráter era o de transportar as lavadeiras de um centro comunitário da periferia.

As tais lavadeiras depois de lavar e passar as roupas das usuárias do serviço, tinham de entregá-las de volta. E ai é que entrava o nosso Van de Oliveira Grogue.

Bom pra encurtar a conversa, é bom que se diga, rapidamente, que o tal motorista não ficou muito tempo no emprego.

Logo que suprimiram o cardiotônico Kombetin, usado pelo pai do Grogue, o nosso motorista foi dispensado do tal emprego. E isso sem que recebesse nenhum direito trabalhista.



Nenhum comentário:

Postar um comentário