Emília era corpulenta, lerda, portadora de um grau de deficiência que a destacava da multidão, onde, de vez em quando, se imiscuía.
Era uma espécie de morta-viva, um zumbi carente, que desde a adolescência não conseguira ninguém que se dispusesse a amá-la. Mas por ser assim, uma lesada, na opinião dos vizinhos, recebera o carinho de alguns médicos que se esmeravam em nutri-la, com os psicotrópicos considerados indispensáveis.
Então Emília tinha a firme convicção de que todos deveriam ser adeptos das tais pílulas mantenedoras, também da sobriedade do seu pai, um bêbado arrependido.
E nas reuniões festivas do bairro, se alguém destoasse das atitudes, que ela achava serem as ideais, aplicava logo a tal matrona, a etiqueta de “louco” no fulano.
Poderiam considerá-la lelé, mas a grandalhona não era besta a ponto de portar-se de forma que a demitissem do seu emprego público. Afinal a mamata era boa e, a presença diária na repartição, dispensável.
Por ter exacerbada a sugestibilidade Emília era usada pelos políticos, velhas raposas, assaltantes dos galinheiros públicos, na difusão das opiniões negativas sobre os inconformados com as rapinas.
O pai e a mãe da Emília passavam também seus dias sob os efeitos das tais pílulas mágicas. Os prescritores garantiam que elas substituíam as substâncias negadas pela natureza.
Por estar bem fofa, possuir a tez alva, e ter o corpo coberto pelos tecidos adiposos, seu aspecto bovino era inconfundível. Mas os excessos materiais faziam dela uma filantropa exímia.
Emilia tinha casa própria e vivia com os pais aposentados, credores de vencimentos respeitáveis. As despesas eram muito menores do que as receitas mensais no lar. Portanto com as sobras dos salários e cestas básicas excedentes, ela exercia uma espécie de poder, corrompendo algumas consciências, dirigindo opiniões.
Detendo esses atributos todos, Emilia era muito requisitada pelos interessados na manutenção ou obtenção dos cargos públicos. E isso era muito gratificante para ela.
Era tão satisfatório saber ser querida pelo deputado e prefeito decadentes, que ela não se importava de nunca ter sido beijada ou deseja por alguém.
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