quarta-feira, 26 de maio de 2010

Irritando Luisa Fernanda

Luisa Fernanda experienciava momentos difíceis naquele já distante princípio de janeiro. Diziam as más línguas que o banco em que ela trabalhava demitiria muita gente e que ela, considerada funcionária inábil, seria uma das que estavam na lista das demissões.

O estado emocional disfórico predominante na Luisa Fernanda contaminava os que viviam ao seu redor e por isso mesmo, naquela manhã de segunda-feira, Célio Justinho, ao notar os resmungos da parceira, achou melhor não dar-lhe um bom dia com aquele entusiasmo característico de quem tivera uma boa noite de sono.

Justinho lembrou-se que Luisa Fernanda tentava descontar no filho do barbeiro vizinho, os dissabores sofridos com a figura maligna. Realmente na noite passada a mulher, com identidade falsa, passara algumas horas na Internet dialogando com o menino.

Célio Justinho achava que Luisa Fernanda procurava atormentar o garoto para que ele brigasse dentro de casa, punindo dessa forma, o barbeiro malvado.

- Não vai comprar o pão e o leite hoje? - perguntou bastante tensa Luisa Fernanda ao Célio que, depois de escovar os dentes, ligara a TV.

Por ser o Célio dependente da Luísa Fernanda, fazia ele tudo o que ela mandava. E mal pudera acomodar-se para ver os telejornais matutinos, quando sentira os maus humores da mulher que o faziam mexer-se.

- Vai vagabundo, faça alguma coisa! Você pensa que minha vida lá no banco é fácil? Retardado mental! Faz dois mil anos que tenta tocar o hino do Corinthians e não consegue! Nem pra isso você presta!

Já passava das oito da manhã quando Célio entrou no bar do Maçarico. Num canto Virgulão, o homem que vendera de uma só vez, duzentas e sessenta e quatro máquinas de escrever pra Prefeitura de Tupinambicas da Linhas e que gostava de tocar cavaquinho pra periquito engaiolado ouvir, bebericava da sua segunda garrafa de cerveja.

Célio Justinho ao pegar os pães, embalando-os viu que também entrava no recinto o Van Grogue. Foi então que Virgulão disparou:

- Van Grogue carrapato de capivara tuberculosa; pó de bosta de urubu catinguento; coprofágico inaugural da maior cidade do estado de São Tupinambos. É verdade que você é adepto da coprofagia?

Van de Oliveira já estava atordoado e não pudera evitar o abalo maior que lhe produziu a detonação daquelas palavras.

Van Grogue aprumou-se, tirou um cigarro do maço e, com gesto exagerado, com a mão direita pediu o seu produto preferido. Então ele se voltou para Virgulão e se defendeu:

- Isso tudo não passa de brutalidade dessa gente incompetente. São pessoas paranóides; elas têm delírios de referência; são incapazes de fazer qualquer coisa. Essa turma só sabe falar mal de quem faz. Eles não conseguem produzir nada e por isso inventam essas grosserias pra desqualificar quem provoca a inveja neles. As indelicadezas são ditas pra desmerecer a quem sabe fazer.

Virgulão riu e convidou Grogue para sentar-se ao seu lado.

Célio Justinho pagando o pão e o leite que pegara, saiu apressado. Ele tinha que chegar rápido em casa, antes que esquecesse o que ouvira. Ele precisava contar logo pra Luisa Fernanda que Van Grogue era mesmo um besouro coprófago.









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