quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Jantar









                    Aquela conversa ali na mesa do restaurante já estava ficando sem graça. Nós chegáramos para jantar num clima tenso e quase não trocamos palavras.

                    Não sei o que perpassava pela cabeça do Oswaldo, mas desconfiava que só podia ser ciúmes. Aquele jeito de quem se mostra contrariado, eu já notava nele, desde o tempo em que dançava na boate.

                    Ele me conheceu durante as minhas apresentações públicas e sabia que as exposições criavam situações suscitantes de ciúmes, portando não podia reclamar. Ele estava sem razão.

                    Mas o clima ruim não passava. Parece que a lasanha não estava saborosa, o vinho não era tão gostoso e a água não tinha a temperatura agradável.

                    O burburinho no ambiente não incomodava, e não houve alteração, quando o Roberto se aproximou.

                    Ele vinha com aquele jeito despretensioso e, sem ser convidado, tomou o assento ao lado do amigo Oswaldo.

                    - Horrível! Horrível! Vocês não imaginam o que o filho do porteiro do prédio fez ontem. – disse o intruso quebrando o silêncio desagradável que pairava entre nós.

                    Notei que o Oswaldo contrariou-se com a presença inoportuna do colega, mas sem dizer nada que o refutasse, deixou que ele prosseguisse.

                    - O adolescente saiu de casa dizendo pra mãe que ia pro estádio ver o jogo do São Paulo. Mas quando chegou no boteco da esquina, parou pra tomar umas e outras com os amigos. Conversa vai, conversa vem, ele e um outro se embriagaram tanto que perderam a noção do tempo. Eles ficaram tão mal que o jogo terminou e nem do bar haviam saído. Então, o filho do porteiro, pra se vingar daquela companhia desagradável, disse que uma tia havia viajado e que estava com a chave da casa, onde poderiam comer alguma coisa e depois ir embora. E lá se foram os dois bêbados. Entraram, comeram, beberam e quando o convidado dormiu depois, de sentar-se no sofá, o filho do porteiro, juntou ali na sala, aos pés do adormecido, todos os objetos de valor da casa. Ele fez uma “montanha” com o DVD, câmera filmadora, máquina fotográfica, TV, micro-ondas, computador, notebook, roupas, bijuterias e outras coisas de valor. Em seguida arrombou a janela do quarto dos fundos. Saiu e trancou, por fora, a porta da rua, chamando a polícia, que ao chegar prendeu o dorminhoco por tentativa de furto. – concluiu Roberto suspirando, na maior serenidade.

                    Bom, eu quase “pirei na batatinha” e pude notar que o Oswaldo engasgou, no final da história, enquanto observava o amigo que se servia alegremente da lasanha.

                    Sem qualquer cerimônia, e no exato momento de pagar a conta, Roberto afirmou ter esquecido a carteira.

                    Olha, eu sei que o tumulto foi notado por muita gente, ali na porta do restaurante, quando em altos brados, tentei dizer ao Oswaldo, que desejava ir embora sozinha. Que não queria mais falar com ele. Eu iria de taxi, mas ele insistiu tanto, que acabamos indo no carro dele. O Roberto veio junto.

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