sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Ruptura







                                               A moça loura olhava atentamente para o céu, onde atados nas asas-deltas, alguns aventureiros destemidos, se arriscavam em busca das emoções mais fortes.

                    O tédio lhe embaraçava o espírito; o pulsar da vida clamava por renovação, ressurgimento, revigoramento do ânimo, das forças.

                    Ela caminhava só pelo calçadão. Nos pés o par de tênis de marca sofisticada, meias brancas, short preto, camiseta verde e uma viseira vermelha, sobre os cabelos, - compunham o vestuário simples, mas revelador de bom gosto.

                    Os voos das asas-deltas, em círculos largos, imitavam o planar dos urubus, aproveitadores das correntes ascendentes. Havia uma dezena delas pontilhando o céu naquele momento.  

                    A jovem tentou imaginar como seriam a visão e os sons naquelas alturas. Ali ao rés do chão, máquinas furiosas passavam céleres, irradiando ruídos tenebrosos e estressantes.

                    Limpando as gotículas de suor que lhe escorriam pelo rosto, sentindo as dores causadas pelo esforço físico, a jovem mulher fixou o olhar num voo irregular, serpenteante de uma asa azul e amarela. Ela descia muito rápido, parecendo sem controle.

                    Ao passar sobre as árvores, os postes de iluminação pública e toda a fiação elétrica do local, o piloto e seu aparelho, caíram sobre o telhado de um sobrado da esquina.

                    A queda foi tão violenta que o piloto e parte do equipamento, feito de tubos metálicos e tecido, atravessaram as telhas e o forro velho, da construção antiga.

                    Durante o corre-corre que se formou, a moça pode estar ao lado do piloto. Em meio aos escombros, à poeira, sangue e muita dor, o acidentado, pedindo ajuda, estendeu-lhe a mão. Ela condoeu-se, chorou, e a segurou; confortando-o viu quando ele se desligou da realidade.

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