segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Casamento de Donizete Pimenta



                                                 - Van Grogue, carniça fedorenta, é verdade que você vai se casar com o Donizete Pimenta?
                    - O quê!? Está me estranhando Pery Kitto? Eu sou é homem. Não me confunda.
                    Diante da gargalhada que explodiu no boteco do Maçarico, vinda de todos os demais bebedores, Van emendou:
                    - Se pelo menos fosse um pouco mais bonito, aceitável, ainda vá lá, mas esse Donizete é dose, ninguém aguenta essa podridão.
                    Célio Justinho que, horas antes, naquela manhã de domingo, discutira com Luísa Fernanda sobre os defeitos surgidos no aparelho de TV comentou:
                    - Olha esses dois ficam tanto tempo juntos, cochicham tanto, sobre tanta coisa, que não se pode duvidar que só falta mesmo o casamento pra selar a união.
                    Pery Kitto tirou o boné verde, coçou a cabeleira branca, cofiou o bigode alvinegro e mandou:
                    - Dizem que o casório será no sábado que vem ali no cartório de registro civil. E que depois darão o maior churrasco jamais visto em toda a história da Vila Dependência.
                    - E olha, comentam que a festa terá um jeitão diferente. Para dar sorte, os convidados se sentarão em tocos, e que durante os festejos dez cães Poodle andarão livres pela casa. – falou num tom seguro, inspirador de veracidade, o Gelino Embrulhano ao mesmo tempo em que, com um gesto, solicitava ao Maçarico, a dose costumeira de cachaça.
                    - Acontece que ninguém sabe onde será a festa. – emendou Maçarico enchendo o copo de “cana” para o Embrulhano.  – Uns querem que seja no quintal da tia Luísa Fernanda, onde tem uma piscina, mas outros acham que o melhor lugar é no barracão da funilaria.
                    - Olha, gente eu quero ser a “madrinha” dessas duas loucas que entre bofetões e afagos dão vida a esse quarteirão chocho. – esgoelou Delsinho Gandelhoso ao entrar desmunhecando no recinto. – E eu quero ser a “primeira” a pegar no buquê. Nem vem que não tem queridas. – arrematou, dando pulinhos, o pernalta serelepe.
                    O clima festivo só foi interrompido quando, de repente, entrou o vereador Fuinho Bigodudo que, com um celular na mão direita bradava:
                    - Está tudo muito bom, está mesmo tudo muito bem, mas podem parar com essa gandaia. Acabei de atender um telefonema do deputado Tendes Trame. Ele me disse que já acionou a polícia pra acabar com esse auê dos infernos. O federal me garantiu que recebeu um montão de reclamações dos vizinhos por causa desse infortúnio que não tem mais fim.  Portanto podem começar a circular. Não quero ver mais ninguém amontoado falando asneiras.
                    Um silêncio tumular pairou no ambiente. Caminhando tranquilo entre os homens Fuinho aproximou-se do Maçarico e sentenciou:
                       - O senhor sabe, não é, seu Maçarico? O alvará do seu bar está vencido! Portanto antes que chegue o reforço policial pode encerrar o expediente. Agora!
                       Donizete Pimenta apoiado ainda no balcão, encarou o vereador e disse:
                    - Você não vai mais ter sossego na sua vida. Vou infernizar você.
                     Trocando olhares em silêncio, todos depuseram seus copos e garrafas sobre o balcão; e depois, sem proferir um único som, abandonaram o bar.
                     
09/05/2011

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