quarta-feira, 22 de junho de 2011

As licitações Tupinambiquenses



                                     O presidente da câmara municipal de Tupinambicas das Linhas o preclaro doutor Fuinho Bigodudo estava contentíssimo por ter o seu time de coração, o E.C. 7,5 de Novembro, sagrado-se campeão da várzea citadina.

                    Na verdade a conquista do campeonato servia como refrigério aos tormentos que as investigações de corrupção na prefeitura, causavam nos políticos da cidade. 

                    Jarbas, o caquético testudo, Tendes Trame, tia Ambrosina, Zé Lagartto e o próprio Fuinho, temiam que as fraudes licitatórias, praticadas durante anos seguidos, fossem agora reveladas pela polícia.

                    - Já imaginou o escândalo? – indagou certa vez um pastor a um grupo de fiéis da congregação, reunidos defronte o templo, depois do culto.

                    Fuinho Bigodudo, que comemorava sua quarta gestão, tinha ainda algumas dívidas pendentes, feitas ao adquirir um apartamento, na área central da cidade.

                    Apesar dos seus oito filhos, e agora também alguns netos, estarem todos empregados nas repartições municipais e autárquicas, ele sonhava longe objetivando instalar, com muita segurança, a mulher que ele julgava ser a amante ideal.

                    Fuinho e seus colegas de partido não acreditavam que as penas da lei pudessem alcançá-los.

                    - Os alçapões da legalidade não nos atingirão. – disse o presidente Fuinho, numa reunião noturna no porão encarpetado da câmara municipal, em que Tendes Trame, bastante envelhecido pelo estresse que a fortuna ilícita lhe causava, esfregava as mãos como se as tivesse lavando.

                    - A gente vamos apagar da face da terra a memória desse Van Grogue, carniça do inferno, desolação dos mãos-grandes e alpinistas sociais legalizados, dessa nossa tão querida e amada terra.  – sentenciou Bigodudo dando um soco na mesa. A pancada fez saltar um exemplar da Bíblia, que esquecida entre alguns papéis, dormitava ali há algum tempo.

                    - Sem violência! Sem violência! – interrompeu o deputado Tendes Trame. - Não podemos nos exaltar. Já imaginou se há microfones escondidos aqui na sala?

                    - Só quero dizer que, passada essa turbulência toda, precisamos reajustar o percentual de 10 para 30% das taxas de comissão, a serem pagas pelas empreiteiras. – disse Jarbas aparentando calma.

                    - É isso mesmo! Pra ganhar licitação de agora em diante, aqui na cidade, a empresa tem de pagar 30% do valor do contrato a título de gratificação. – confirmou Fuinho.
 
                    - Ai gente... Que exagero! Vocês não acham que é muito 30%? – questionou a tia Ambrosina com certa compaixão na voz.

                    - Nada! Que mané muito, o quê? Está até barato demais. - Reagiu Jarbas, o caquético.

                    - Bom, se todos nós nos safarmos ilesos dessas loucuras policiais, então, ai sim, poderemos voltar a agir sobre a nova margem de 30%. – garantiu Tendes Trame.

                    - Veja que esse aumento na percentagem deve garantir também a adesão do Diário de Tupinambicas das Linhas. Hoje em dia, todo mundo sabe que não existe governo que se mantenha sem a imprensa. – informou Jarbas.

                    - Mas mesmo assim considero o percentual de 30% muito exagerado. – insistiu a tia Ambrosina.

                    - Bom o que interessa é que tudo está calmo e não há indícios de que nossas contas foram devassadas. – falou Jarbas encerrando a reunião no porão da câmara municipal.

                    Era desse jeito que os ricos de Tupinambicas das Linhas tornavam-se cada vez mais ricos e os pobres amargavam a miséria que não tinha fim.  

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