Todos nós temos um osso do antebraço que se chama rádio. Qualquer embate das mãos ou mesmo dos membros superiores podem causar-lhe a fratura.
Pois foi o que aconteceu com Van de Oliveira Grogue quando tinha dez anos. Ele estava no campo de areia do clube recreativo que frequentava e, junto com outro moleque, da mesma idade, brincava de bola.
As traves, feitas com material usado em telhados da construção civil - caibros -, eram pintadas de marrom e Van de Oliveira, na posição de goleiro, interceptava as bolas chutadas por seu companheiro.
Os moleques brincavam alegres até o momento em que um adulto espadaúdo, trajando só um short branco, entrou em campo. Seu porte atlético contrastava com o corpo franzino dos meninos.
O sujeito chegou pedindo a bola. E Van de Oliveira, não querendo ser chato, entregou-a. O primeiro tiro do grandalhão passou zunindo sobre a cabeça do moleque, parando depois de acertar o alambrado.
O segundo petardo atingiu a mão direita da criança que a viu pretejar imediatamente. Com o choque violento, o rádio, na altura do punho, rompeu-se e, a ponta do osso, próximo do polegar, sobrepôs-se sobre o segmento.
O menino sentindo muita dor, segurando com a mão esquerda, o antebraço direito, logo acima da contusão, caiu na areia.
A vítima começou a chorar, seu colega, sem saber o que fazer, falava coisas desconexas. O agressor, por sua vez aproximou-se e, com um ar de deboche, disse que não era nada.
Mas o homenzarrão ao notar que o menino não parava com o berreiro, correu até a secretaria do clube, onde comunicou o fato ao administrador.
O burocrata aproximou-se esbaforido e notando a gravidade da ocorrência, com muito jeito, puxou a mão do moleque, conectando as partes do osso.
Logo em seguida o camarada envolveu o local luxado com um lenço que tirara do bolso. Levando o menino até a secretaria do clube, chamou um táxi onde o colocou, mandando-o para casa.
Depois desse incidente, cerca de dois anos aproximadamente, um primo do Grogue chamado Edgar Sá, atendendo as solicitações da sua tia, que era professora, iniciou por correspondência, um curso de radiotécnica.
As lições, impressas em castelhano, vinham dos Estados Unidos e por elas a mãe do Edgar Sá pagava muita “plata”.
Fazia parte dos ensinamentos uma breve história do rádio. Então Edgar Sá pôde saber que tudo começara praticamente com o chamado Rádio de Galena, que era um receptor simples, feito com o mineral galena e depois com cristal de quartzo ou sílica.
Para ironizar Van Grogue, Edgar Sá fizera chegar até ele, por intermédio de uma prima, a bela morena jambo de cabelos pretos e longos, naquela manhã vestida de azul e branco, um pequeno pedaço de cristal de quartzo.
Tendo-o guardado com carinho numa lata, onde mantinha outros brinquedos pequenos, só muitos anos mais tarde, Grogue pôde entender o significado do presente inusitado, que recebera justamente quando, defronte a porta da sua casa, chegava do grupo escolar.
01/06/2011.
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