segunda-feira, 4 de julho de 2011

A Micro Terapia


                                              - Eu não contradito quem afirma existir lugares bem melhores pra se morar do que aqui em Tupinambicas das Linhas. – Disse convicto Allan Bança ao se aproximar da mesa onde Van Grogue solitário, degustava a sua primeira cerveja, naquela manhã de sábado.

                    - É claro que tem lugar muito melhor do que aqui.  Só de estar longe do Jarbas, Tendes Trame e desse Fuinho Bigodudo já é uma glória inenarrável. – Respondeu Van de Oliveira, sorvendo um gole generoso da cerveja geladíssima.

                    - Dizem que a sensação de culpa no Tendes Trame, o deputado infiel, é tão intensa que ele faz agora uma nova terapia. – Informou lá de trás do balcão o Maçarico, abaixando o som do rádio.

                    - Ele consultava um doutor que lhe amenizava o remorso, causado pela cobiça, mas logo desistiu, por considerar o sujeito pior do que ele. – Completou Allan Bança, sentando-se à mesa e pedindo, com um gesto, uma cerveja igual a do Grogue.

                    - Ouvi falar que ele pratica agora a tal Micro Terapia. – Continuou Bança. – Ele descarrega suas neuras nos spans, correntes, piadas e pegadinhas, que manda pela internet. Às vezes ele tenta invadir e apagar os arquivos dos seus adversários. E o pior é que apaga mesmo. Deleta até blogs da oposição. O Tendes é fogo!

                    - Mas olha, já que você está falando da educação nessa cidade, deixe que lhe conte o que me aconteceu ontem, sexta-feira. – confidenciou Grogue ao amigo que já ingeria com prazer a bebida.

                    - Fala que nós te escutamos. – Incentivou com ironia o Maçarico, atendendo outro freguês que chegava.

                  - Pois eu vinha caminhando pela Rua Governador Peter King, quando passou por mim uma caminhonete preta que levava, na carroceria, seis crianças. O motorista subiu com o veículo na calçada, facilitando o trânsito para os demais carros na rua, mas travando o fluxo dos pedestres. O camarada desceu, entrou num sobrado,ingeriu o vinho tinto de uma taça cheia, subiu pela escadaria e desapareceu lá dentro. Quando um velhinho passou, se esgueirando entre o para-choque e a parede, uma das meninas disse para as demais crianças: “Esse aí é estuprador. Ele é o Gengis Khan.” Ao ouvirem isso os demais guris soltaram um oh de surpresa. É claro que à noite, durante os telejornais, as notícias sobre Dominique Strauss-Kahn as fariam lembrar o vovozinho que não tinha nada a ver com a história perversa da maluquinha. - Concluiu Grogue, pedindo uma porção de salame fatiado.

                    - Sabe o que acontece seu Van Grogue? – preparou-se para uma palestra o Allan Bança – Acontece que numa família, os problemas de alcoolismo, adultério, loucura, e violência, contra as crianças precisam, pra cessarem, de um bode expiatório. E no caso, escolheram o pobrezinho que passava por ali de bobeira. A paz num lar tumultuado poderia, em tese, ser conseguida quando alguém, que não tem nada a ver com a sacanagem daquela gente toda, pague o pato.

                    Enquanto conversavam uma chuva muito forte caiu sobre a cidade. Houve inundação e desabamento. Depois de algumas horas a visão do caos entristecia a quase todos.

                    - A todo momento os políticos se vangloriam dos votos que receberam. Mas nessa hora não conseguem fazer nada. – Lamentou o Maçarico, incontestavelmente apoiado pela freguesia.


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