segunda-feira, 25 de julho de 2011

A Rosa Murcha



                               Um comportamento que chateia e atrapalha muita gente é o chegar atrasado aos compromissos.
             O retardatário geralmente é aquele que acumulando mais funções do que pode desempenhar, não consegue satisfazer plenamente a todas as promessas feitas.
             O que chega tarde geralmente não delega atividade para mais ninguém. No grupo ele quer fazer tudo sozinho.
             O atrasado é do tipo que, se tivesse jogando futebol, ao cobrar o escanteio, correria pra ele mesmo cabecear. É o autossuficiente bastando-se a si mesmo.
             Muita vez ocorre que o retardatário não computa o tempo do trajeto, que tem de fazer entre o seu local de saída, e o de chegada.
             Se o compromisso está marcado para as 20horas, o retardado sai nesse horário do seu ponto inicial. É claro que todos os demais integrantes do grupo, que se esforçam pra chegar no horário, ficam esperando a figura que não acerta nunca.
             Você já imaginou o entregador de flores que chega sempre depois do momento convencionado? Com que cara ficaria a pobre donzela ao receber completamente murcha, abatida pelo transcorrer do tempo, aquela linda rosa, enviada por seu esperançoso amor?
              Não seria exagero afirmar que o retardado presa mais por si, por sua imagem e por seu tempo, do que pela imagem, pelo tempo e o bem estar de todos os demais componentes do grupo. Com certeza.
             É nesse sentido que o exacerbado ego do dito cujo acumulador de funções e ocupações, consegue impacientar a todos.

Por falar em rosa leia o poema Rosa Murcha de Casimiro de Abreu

Esta rosa desbotada
Já tantas vezes beijada,
Pálido emblema de amor;
É uma folha caída
Do livro da minha vida,
Um canto imenso de dor!
Há que tempos ! Bem me lembro...
Foi num dia de Novembro:
Deixava a terra natal,
A minha pátria tão cara,
O meu lindo Guanabara,
Em busca de Portugal.
Na hora da despedida
Tão cruel e tão sentida
P’ra quem sai do lar fagueiro;
Duma lágrima orvalhada,
Esta rosa foi-me dada
Ao som dum beijo primeiro.
Deixava a pátria, é verdade,
Ia morrer de saudade
Noutros climas, noutras plagas;
Mas tinha orações ferventes
Duns lábios inda inocentes
Enquanto cortasse as vagas.
E hoje, e hoje, meu Deus?!
— Hei de ir junto aos mausoléus
No fundo dos cemitérios,
E ao baço clarão da lua
Da campa na pedra nua
Interrogar os mistérios!
Carpir o lírio pendido
Pelo vento desabrido...
Da divindade aos arcanos
Dobrando a fronte saudosa,
Chorar a virgem formosa
Morta na flor dos anos!
Era um anjo! Foi pr’o céu
Envolta em místico véu
Nas asas dum querubim;
Já dorme o sono profundo,
E despediu-se do mundo
Pensando talvez em mim!
Oh! esta flor desbotada,
Já tantas vezes beijada,
Que de mistérios não tem!
Em troca do seu perfume
Quanta saudade resume
E quantos prantos também!

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