segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Cleptomania



            Zé Lagartto estava preocupadíssimo com a celulite. Momentos antes da reunião ordinária da Câmara Municipal, que se realizaria naquela noite de segunda-feira, ele se olhava no espelho, ali no quarto, buscando os sinais da doença.
       Durante a avaliação ele fixou os olhos na etiqueta saliente da cueca preta que vestia. Esse fato o fez recordar da ocasião em que estivera, na manhã de domingo, na loja de produtos estrangeiros, do shopping.
       Zé aproveitava os bons momentos do ano legislativo que se findava e, bastante descontraído buscava, no local abarrotado de objetos atraentes, algo que lhe agradasse o ego ou que pudesse despertar a admiração das pessoas que o vissem portando-o.
       Ao entrar ele percebeu que as vendedoras não estavam presentes. Percorrendo então o espaço amplo, absorvendo os odores inusitados, ele sentiu a necessidade de tocar numa camisa esportiva, que jazia sobre um dos balcões.
       Notando a maciez do tecido fino, ele continuou sua incursão exploradora. Deixando-se tomar pelo frenesi de poder escolher qualquer coisa que quisesse, e que estava bem ali, na sua frente, ao seu alcance, Lagartto andou devagar, desfrutando a belezura luminosa emanante dos objetos. Num dado momento ele sentou-se na cadeira postada atrás de uma mesa grande. Era a cadeira do gerente.
       O ruído de alguém que entrava no quarto trouxe-o para a realidade. Era a companheira magricela, de voz estridente, que portando um jornal aberto na página policial anunciava:
       - Zé, ocê viu as estatísticas da polícia sobre os furtos que ocorrem nas lojas do shopping?
       Lagartto engasgou, tossiu e sentiu seu rosto avermelhar-se.  Ele então disse com voz bem grave:
       - Cadê o meu paletó novo e a gravata que ganhei de presente no aniversário? Você fica lendo jornal e nem se preocupa com as coisas necessárias. Hoje temos de aprovar no plenário, mais outra concessão de crédito para a prefeitura. Será que vou chegar atrasado de novo?
       Sentindo-se mais uma vez frustrada por não poder comentar nem sequer uma mísera notícia de jornal, a velha companheira voltou para o seu posto, onde pôs-se a terminar de passar as roupas.
14/11/11  

Nenhum comentário:

Postar um comentário