segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A Escada



Já lhes contei a história da Gertrudes. Quando criança ela fizera parte de família numerosa. Seus pais, depois que chegaram da Europa, compraram uma fazenda enorme donde tiravam barro com o qual faziam telhas e tijolos. Mas depois que crescera resolveu vir para a cidade, como direi, grande, onde se estabeleceu com o comércio de materiais para construção. 

Gertrudes considerava-se uma das melhores vendedoras do mundo. Era daquelas que se orgulhava por conseguir negociar geladeiras com esquimós e aparelhos artificiais de bronzeamento nos países com sol tropical. Por isso ela, diante do marasmo que sofria sua loja "Casa Quadrângulo", naquele período do ano, apostou com uma vizinha sua, prima da Bim Latem, que venderia, nos tempos do computador eletrônico e das cópias xerográficas, um antiquado e obsoleto mimeógrafo a álcool ao danado maluco que, igual à mosca na sua sopa, vivia a lhe abusar.

Tratou de saber do que gostava o pancada. Quando lhe disseram que gostava de ciclismo e que não saía de uma loja especializada onde se comerciava o produto, mandou imprimir um folheto, feito de forma muito bem elaborada, que continha certas sugestões implícitas.

Na autoria do prospecto figurava um nome semelhante ao do proprietário do estabelecimento que o amalucado visitava sempre. Tal procedimento tinha por fim criar identificação com os gostos do seu alvo visado. 

Astuciosamente fez com que o livreto aparecesse entre os pertences do desnaturado. O opróbio quando descobriu aquela literatura na sua estante, ficou assim, meio que cismado, e incontido na sua curiosidade extrema, resolveu saber quem teria sido o autor da façanha; mesmo que isso implicasse em xingamentos de que ele não passava de um paranoico incontido.
 
Não obteve sucesso em saber quem havia introduzido aquele papelório na sua estante. Mas podia supor que fosse Gertrudes, eis que somente a ela interessava provar, vendendo um objeto ultrapassado, que o comprador não era assim nenhuma sumidade inteligentésima. 

Para Gertrudes, o intelijumento estava abusando da sua paciência quando passava defronte a loja diariamente, dirigindo-lhe olhares provocativos. E por isso seria o alvo principal daquela aposta. No panfleto, as anotações de rodapé traziam indicações da bibliografia usada e que se encontrava no mercado com a forma mimeografada.
  
A intenção de Gertrudes, conforme pode notar meu perspicaz leitor, era produzir na intelijumência a querência de fazer algo, por imitação, com o mimeógrafo, que ele veria exposto na loja vizinha, todos os dias que passasse por ali.

E conseguindo isso seu regozijo seria tal que toda vez que aquela cabeça estiolada transitasse defronte sua loja seria escarnecida com achincalhamentos contundentes. 

Mas, contudo se não obtivesse sucesso nesse seu projeto maquiavélico, Gertrudes faria contatos imediatos com a seita maligna do Dr. Val. E junto com o maníaco do expresso 383, dariam fim ao provocador, fazendo desaparecer inclusive o corpo do delito, sem o qual a impunidade de todos os mandachuvas e tutumumbucas da cidade mortiça estariam asseguradas.


Mudando de assunto:
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