sábado, 17 de dezembro de 2011

O Primeiro Amor



          Van Grogue trajando camiseta regata azul, short marrom e chinelos verdes, entrou no bar do Bafão naquela manhã de sábado, com a intenção de matar a sede e passar algumas horas agradáveis na companhia de gente boa.
       Já tinham chegado Gelino Embrulhano, Zé Cíliodemorais, Billy Rubina e Célio Justinho, que falavam sobre a possibilidade de ser o E.C. 7,5 de Novembro, o campeão do torneio estadual de futebol, que iniciaria em 2012.
       Grogue tinha passado a noite jogando cartas na casa de um vizinho do Fuinho Bigodudo e não podendo desviar eficientemente da mesa de bilhar, postada no centro do salão, deu uma topada no móvel que quase lhe arrancou a unha do artelho do pé direito.
       Gemendo e se contorcendo de dor, Van aproximou-se dos colegas que, boquiabertos com a cena, cessaram a conversa.
       - Pô Bafão, bem no meio da passagem você deixa esse trambolho? – indagou, choramingando, o Van de Oliveira.
       - Qual é? Está cego ou o quê? – respondeu indignado o dono do boteco.
       - Todo mundo desvia, só você não percebeu o tamanho da coisa. – comentou Célio Justinho.
       Billy Rubina pousando o copo de cerveja sobre o balcão abaixou-se observando mais de perto a região do choque. Depois comentou:
       - Não foi nada. Não arrancou a unha e nem fraturou o dedo. Mas você é burro mesmo hein, seu Van Grogue?
       - Que mané burro, mano? Não vi essa porcaria no meio do caminho. – defendeu-se Van.
       - Está bêbado? Já chegou encharcado pro expediente? - Quis saber o Zé Cíliodemorais.
       Sem dar atenção às reclamações Van Grogue, com um gesto, fez vir para si o costumeiro copo de cachaça e a cerveja bem gelada.
       Como se sentia entristecido, o pingueiro mais conhecido de Tupinambicas das Linhas desistiu de conversar com a galera, acomodando-se a uma mesa, num canto distante, perto da porta.
       O fluxo da conversa dos colegas voltara ao normal e Grogue então, tomado por uma espécie de transe, sentiu que imagens e sons fantasmagóricos envolviam-no distanciando-o do boteco.
       O menino, de mãos dadas com a mãe caminhava pela rua principal da cidade. Ele vestia uma camisa branca nova, seu short azul marinho tinha bolsos nas laterais e as sandálias de couro, com fivelas metálicas, proporcionavam-lhe prazer ao andar. Na lancheira, que trazia no ombro direito, havia uma garrafinha de leite com café e um filão recheado com queijo.  
Mãe e filho pararam defronte ao portão de ferro, cuja pintura cinzenta demonstrava desgaste. Ante o olhar espantado e curioso da criança, a mãe lhe sussurrou:
- É o jardim da infância. No ano que vem você vai para o curso primário.
Atendendo ao toque na campainha a mulher, de meia idade, cabelos esbranquiçados e um sorriso amistoso nos lábios, veio receber o seu mais novo educando.
O menino foi introduzido numa sala onde já estavam outras crianças sentadas em círculo, no chão. Elas usavam lápis de cera para produzir traços e formas coloridas nos papéis soltos, que depois de preenchidos, eram guardados nas pastas individuais.
O garotinho não trouxera nenhum material que possibilitasse sua atividade junto ao grupo. Entretanto a professora, buscando num armário distante, duas folhas de papel e alguns lápis, fez com que o recém-chegado se juntasse aos outros.
A tarde ia passando e o novato não podia esconder a atração que lhe provocava a menina rochonchuda, de cabelos castanhos lisos e longos, que mantinham no lado esquerdo, lá no alto, um lacinho branco de seda.
Por onde Ângela andasse Van de Oliveira ia atrás. E quando ela percebia que aquele chato se aproximava, logo demonstrava seu desprazer queixando-se com a professora.
Van pôde ouvir o comentário da mestra com uma assistente sua, sobre o comportamento do menino.
- Ele não fala muito. E veja que tenta se aproximar da garota.
- É, mas ela não quer nem saber... – respondeu a auxiliar.
Numa tarde, quando a professora estendia as esteiras num dos aposentos, onde as crianças repousariam, Grogue vendo que Ângela se acomodou numa delas, deitou-se na do lado.
O menino sentiu-se muito mal quando a amada, resmungando, se afastou dele.
Vexado ele não tinha forças nem pra se levantar.
- Acorda! Ô pingueiro do inferno! No chão do boteco é lugar pra dormir? – Era Bafão que, sacudindo o ombro direito do Van, tirava-o de um coma alcoólico.
    


Mudando de assunto:
Relembre um dos sucessos de Ângela Maria, a renomada cantora brasileira. Ouça-a cantando Babalu.
Curta o vídeo.

 

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