terça-feira, 30 de agosto de 2011

Hely Kopter e as Revistas

             Hely saiu de casa naquela manhã ensolarada de maio e, premido pela preocupação de pagar as contas, considerou a urgência em conseguir um trabalho.
             Tupinambicas das Linhas era uma cidade limitada, não oferecendo ocupação remunerada, que mantivesse a esperança de progresso dos seus jovens.
             Entretanto o moço, por ter a teimosia como faceta que lhe compunha a personalidade, pensou que talvez pudesse encontrar algum possível empregador anunciante de vagas, no Diário de Tupinambicas.
             Para obter a publicação, Hely caminhou até a banca de jornais e revistas, instalada na estação rodoviária da cidade.
             O trânsito de ônibus, automóveis e pessoas, limitava-se aos raros embarques e desembarques, ocorridos geralmente de hora em hora.
             Hely aproximou-se dos jornais e com uma folheada bem rápida, pôde perceber que o grande recheio das páginas de anúncio, se limitava aos proclamas dos comerciantes de imóveis.
             Sob o olhar reprovador da funcionária que de uma cabine em separado, postada na entrada, falava ao telefone, chamando a atenção de alguém supostamente do outro lado da linha, Hely notou que fizera algo reprovável. Ele deveria ter comprado o jornal e não folheá-lo devolvendo-o depois.
             Temendo que sua gafe provocasse queixas verbais audíveis e humilhantes vindas da mulher, Hely resolveu esperançá-la com uma possível realização de venda.
             Ao invés de retirar-se, entrou até a seção onde estavam expostos os gibis.
             Os impressos coloridos do Superman, Batman, Zorro, Mickey, Pato Donald, e Tio Patinhas fascinaram o moço. Ele precisava usufruir, com mais calma, o prazer que lhe proporcionava aquelas histórias todas.
             Mas como, se estava sem dinheiro?
             Aproveitando o instante em que a mulher fazia o troco de um freguês, Hely, com um gesto rápido, assim como num passe de mágica, inseriu na cintura, sob a camisa, um gibi do Superman e outro do Batman.  
             Esperando que seu rosto esfriasse e seu coração voltasse ao ritmo normal, Hely caminhou por entre as demais fileiras de publicações.
             Já perto da saída e ainda evitando o olhar condenador da funcionária, o moço ganhou a rua.
             Julgando estar numa distância suficiente dos olhares da comerciante, Hely sacou os gibis da cueca, passando a folheá-los.
             - E ai, comprou agora meu? – perguntou numa voz poderosa o Van Grogue que passavam pelo furtador.
             Notando que todos os olhares recaíam sobre si e não tendo como justificar a posse dos objetos, principalmente para a proprietária, que já vinha no seu encalço, Hely desfaleceu.
             Enquanto esperavam pela vinda do resgate os comerciantes do local sentaram-no numa cadeira de rodas. Hely foi levado de ambulância da Rodoviária até o hospital, onde foi atendido.    

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