sexta-feira, 9 de março de 2012

O Renascer



                 Cassio saiu de sua casa à tardezinha, objetivando visitar os familiares de uma amiga que estava adoentada.
       O rapaz dirigia seu carro com muito cuidado, eis que estava bem ciente dos perigos do trânsito. Os noticiários diários estampavam as ocorrências desastrosas no dia a dia e, segundo as previsões, somente depois de longa campanha educativa, elas diminuiriam.
       Do bairro de onde saiu, passou pelas ruas centrais da cidadezinha pacata. Na praça principal, ladeada por agências bancárias, ele viu a pressa das pessoas que buscavam cumprir seus compromissos.
       Bastante atento, ele entrou então na via, que o levaria ao seu destino final.
       Ao parar defronte o prédio da amiga, deu graças pelo milagre de ter encontrado aquela vaga, estacionando ali o Pálio grená.
       Com alguns passos, o rapaz chegou à porta do edifício, de onde se fez anunciar.
        Lentamente o moço foi entrando até chegar à sala onde foi recebido pela jovem alta, magra, cuja tez era bem alva.  
       A anfitriã olhou-o, de cima pra baixo, com desconfiança. Tinha o semblante tenso; ela estava prevenida; havia algo obscuro, oculto, que dava a sensação de incerteza e medo.
       Eles trocaram algumas palavras e Márcia pediu que ele se sentasse no sofá branco. Logo em seguida ela o deixou só, indo para a cozinha.
       Alguns segundos depois Marcia voltou trazendo uma cadeira que colocou ao lado do sofá, onde o jovem se acomodara.
       Sentindo-se desconfortável e achando muito esquisito o fato dela ter ido buscar uma cadeira, quando havia espaço de sobra no sofá, Cassio perguntou sobre o estado de saúde da amiga.
       - Ela ainda está internada. Na UTI. – respondeu Márcia sentando-se na cadeira.
       Sem ter o que dizer, o moço talvez num gesto de defesa, dobrou-se apoiando os cotovelos nos joelhos.
       - Você não gostava dela? – quis saber Márcia.
       - Não.
       - Por quê? – insistiu a jovem.
       - Ela tinha os pés feios. – justificou Cassio visivelmente envergonhado.
       Márcia ajeitou o vestido cor de vinho, cruzou as pernas e dobrou-se também, apoiando os cotovelos sobre a coxa direita.
       Naquele instante Cassio viu-se ainda menino aproximando-se da sua avó paterna que, sentada também numa cadeira, na cozinha, ouvia o locutor jovial que falava no rádio, postado numa prateleira, fixada na parede, bem na altura da sua orelha esquerda. O garoto foi se aproximando até tocar, com os dedinhos, as veias grossas e salientes da mão direita da avó.
       - Será que ela vai melhorar? – inquiriu o moço.
       - Os médicos dizem que é bem grave. Ela precisou raspar a cabeça.
       - Todos os cabelos caíram? – perguntou mais uma vez o visitante.
       - Se ela melhorar e deixar que eles cresçam normalmente, sem usar nada, pode ser que tudo volte ao estado original. – confirmou Márcia.
       - E se ela insistir com aquelas ideias de tintas, pinturas? – perguntou Cassio com um tom sofrido na voz.
       - Dai, se tudo der certo, nada mais complicar, ela usará perucas pro resto da vida. – asseverou a moça enquanto olhava os artelhos que movia ostensivamente.
       Sentindo-se muito embaraçado Cassio levantou-se anunciando que partiria.
       - É cedo ainda. – disse em voz baixa a jovem bonita.
       - Vamos rezar pra que dê tudo certo, e ela sare, não é verdade?
       - Se Deus quiser ela vai melhorar. – afirmou a moça esperançosa, enquanto abria-lhe a porta.  
       No caminho, de volta pra casa, Cassio torcia pra que aquela sua amiga, tão amada, pudesse recuperar a saúde que perdera, momentaneamente, por causa da imprudência.

Mudando de assunto.
Quem não se lembra
da canção Dominique Nique Nique?
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